terça-feira, 31 de maio de 2011
Corre lá e mostra pra sua mãe...
Há 40 anos os EUA levaram o mundo a declarar guerra às drogas, numa cruzada por um mundo livre de drogas. Mas os danos causados por elas nas pessoas e na sociedade só cresceram. Abusos, informações equivocadas, epidemias, violência e fortalecimento de redes criminosas são os resultados da guerra perdida numa escala global. Num mosaico costurado por Fernando Henrique Cardoso, "Quebrando o Tabu" escuta vozes das realidades mais diversas do mundo em busca de soluções, princípios e conclusões. Bill Clinton, Jimmy Carter e ex-chefes de Estado, como da Colômbia, do México e da Suíça, revelam porque mudaram de opinião sobre um assunto que precisa ser discutido e esclarecido. Do aprendizado de pessoas comuns, que tiveram suas vidas marcadas pela Guerra às Drogas, até experiências de Drauzio Varella, Paulo Coelho e Gael Garcia Bernal, "Quebrando o Tabu" é um convite a discutir o problema com todas as famílias.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Recordar é viver. O Pet acabou com você!
Era um dia frio, sem chuva. Seria um dia chato, não fosse o Maracanã lotado e a expectativa de um título. Ele não era fanático, sequer tinha visto o estádio lotado na vida, até então. Tinha 13 anos e torcia, timidamente, para o Palmeiras, apesar de morar no RJ.
Naquele domingo seu pai o levou na final. De bandeira, camisa e ingresso na mão, chegou assustado com a multidão. Entrou faltando 15 minutos pra começar e, quando olhou em volta, disse: “Pai, quantas pessoas tem aqui?!?”.
- Muitas, filho… uma nação inteira, disse o pai.
Aquela multidão explodiu em faixas, bandeiras e papel picado minutos depois. O garotinho se encolheu com medo e sentou. Com 1 minuto de jogo a torcida levantou e não deixou que o guri visse mais nada. Ele ouvia, sentia, mas não assistia.
Seu pai, rubro-negro fanático, não tinha muita esperança de que seu pivete palmeirense um dia se envolvesse com futebol. Jamais mostrou grande interesse, e só torcia porque tinha um amigo que era palmeiras.
O Flamengo saiu ganhando, mas não bastava. Tinha que ser com 2 gols de diferença, ou nada. Seu pai explicou que “faltava um”, e o garotinho não entendeu. Afinal… vitória não é vitória de qualquer jeito?
Sofreu um gol, e ele não tirou sarro do pai como sempre fazia. Ficou triste, como que contagiado pela multidão. O outro lado, 40% do estádio apenas, fazia barulho, e ele ouvia o silencio da nação a sua volta. Segundo ele, o silencio mais dolorido que já escutou na vida.
O Flamengo fez o segundo, e o garotinho, se envolvendo com o jogo, vibrou. Pulou no colo do seu pai e o abraçou como se fosse um legítimo urubuzinho.
Não era, ainda.
A torcida começou a cantar o hino, que ele sabia de cor de tanto ouvir o pai cantar. Pela primeira vez, cantou num estádio, e fez parte da nação. A angustia de milhares não passou em branco. Em mais alguns minutos o garotinho suava e já rezava de mãos grudadas ao peito.
O Flamengo virou, mas não bastava.
40 minutos do segundo tempo. Mesmo com 2×1 no Placar, a nação ouvia gozações do outro lado. Ele não entendia, e fez o pai explicar, mesmo num momento dramático do jogo.
Atencioso, o pai sentou e contou pro garoto que o Flamengo precisava ter 2 gols de vantagem, porque a vitória por um gol empataria a soma de 2 jogos, e o empate era do rival. Ele não entendeu bem, mas simplificou em sua cabeça: “Mais um e ganharemos”.
Opa… “ganharemos”? Ele não era palmeirense?
E então, aos 43 minutos, onde alguns já se mexiam na direção da saída, uma falta do meio da rua. Seu pai vibrou e ele questionou: “O que foi? Foi pênalti!? “
- Quase isso, filho!! Dali pro Pet é pênalti!!, profetizou o pai, ignorando a distancia da falta.
A cobrança… o silencio eterno de 1 segundo e a explosão. Gol do Flamengo! Petkovic! E seu pai o abraça como nunca abraçou em toda sua vida. Pula, joga o garoto pra cima, beija, chora…
O garotinho, numa mistura de susto com euforia, olha em volta e, de braços abertos, comemora em silencio um gol que não era dele. Sem razão, ele chora. E chorando, abraça o pai que, preocupado, rompe a alegria e pergunta: O que foi? O que foi? Se machucou?
- Não… Eu to feliz, pai!
Sem mais palavras, o pai sentou e abraçado ao garotinho deu um abraço de tricampeão. O jogo acabou, e os dois continuaram abraçados.
A festa rolando, os dois assistindo a tudo aquilo emocionados, o garotinho absolutamente embasbacado com a cena, já que nunca havia visitado um estádio lotado, muito menos uma decisão. O pai olhava pro campo e pro filho, porque sabia que, talvez, aquele fosse seu único momento na vida onde teria a imagem de seu garoto comemorando um titulo do time dele.
E chorava, sem vergonha nenhuma de quem estivesse em volta.
O menino foi embora pensativo, eufórico. Em casa, contou pra mãe com uma empolgação incomum sobre tudo que viveu naquela tarde. E não falava do jogo, apenas da torcida. Iludido por uma frase, contou pra mãe:
- Aí, no finalzinho, teve um pênalti! E o Flamengo fez o gol…
- Não filho… não foi pênalti! Foi de falta.
- Mas você disse que foi pênalti…
- Era modo de falar…. hahahahahah
- Então, mãe… aí, o cara fez o gol e a gente foi campeão!!!
Pronto. Aquele “a gente” fez o pai parar de colocar cerveja no copo, virar a cabeça lentamente e perguntar, com medo da resposta:
- A gente, filho?
(silencio…)
- É pai! O Mengão!!!!!
Emocionado, o pai abraçou o garoto e não falou nada. Ali, seu maior sonho virava realidade. A mãe entendeu, deixou os dois na cozinha e saiu de fininho, enquanto o pai começava a contar de uma outra final que viveu em mil novecentos e bolinha, com toda a atenção do novo rubro-negro.
Hoje o garoto tem 21, completados há alguns dias.
Quando seu pai perguntou o que ele queria de presente este ano, a resposta foi essa:
- Dois ingressos, uma bandeira, a camisa nova e ver você chorando igual aquele dia.
E há quem diga que “futebol é bobagem”…
Abs,
RicaPerrone
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Drogas legais à venda em Portugal
Durante o dia o Bairro Alto parece outro. Vários idosos enchem mercearias, cafés e padarias e o cheiro da roupa acabada de estender sobrepõe-se ao dos copos de cerveja da noite anterior. Nas esquinas, já não há vestígios dos homens de aspecto duvidoso que todas as noites tentam impingir haxixe a quem passa e já ninguém se choca quando, por acaso, lê numa porta: "A tua loja de drogas legais".
No número 29 da Rua Luz Soriano, no Bairro Alto, a Magic Mushroom facilmente passaria despercebida não fosse a chamativa placa encarnada com um cogumelo com pernas. Lá dentro, várias substâncias alucinogénias aconchegam-se desde 2008 nas prateleiras envidraçadas. "Vendemos drogas legais. Têm os mesmos efeitos de outras como marijuana, ecstasy ou LSD, mas são feitas à base de produtos naturais", explica a canadiana Stephanie Turcotte, de 31 anos, sócia da loja que esteve um ano e meio à espera de licença da Câmara para abrir as portas.
A ver elefantes A partir do meio-dia, o movimento na Magic Mushroom não pára. Um casal de trinta anos conversa com a empregada da loja acerca de uma erva poderosa com efeitos semelhantes aos da canábis, a Pulse. "Esta é nova, chegou há pouco tempo, mas ainda não experimentei", diz a funcionária apontando para outra que também pode ser consumida em chá. O casal opta por uma embalagem de sálvia divinorium, uma erva que contém um dos alucinogénios mais fortes, muito usada pelos índios xamãs da tribo mexicana Mazatec. "Costumamos dizer aos clientes para não consumirem sálvia sozinhos e para se sentarem, principalmente as pessoas que experimentam pela primeira vez", explica Stephanie. "A trip é tão forte que dá para ver elefantes brancos ou coisas cor-de-rosa... perde-se totalmente o controlo e há tendência para cair."
Mas nem só de drogas vive a Magic Mushroom. Além da roupa com cogumelos estampados, há chás afrodisíacos, produtos para dar energia e "até umas cápsulas de vitaminas que curam a ressaca de álcool". "Uma vizinha nossa que morreu com 90 e tal anos costumava vir aqui comprar chocolates e dietéticos", conta Stephanie. "Temos clientes dos 20 aos 70 anos e muitos deles vêm de fato e gravata." No entanto a maior parte das vendas (nacionais e internacionais) são encomendas através do site da loja.
COGUMELOS E CACTOS Esta não é a primeira loja de drogas legais em Portugal. Em Aveiro, a Cogumelo Mágico, que abriu em 2007, orgulha-se de ter sido o primeiro espaço do género fora da Holanda. Carlos Marabuto, de 45 anos, dono da loja e de uma sex shop no mesmo centro comercial (o Oita, em Aveiro) tem um fornecedor holandês que lhe traz os produtos numa carrinha. "Os meus preferidos são os cogumelos mágicos. Não há droga mais linda", diz. A espécie que vende, o cogumelo Amanita Muscaria, provoca alucinações que podem durar dez horas e já foi proibido na Holanda. Em Portugal é o único que pode ser comercializado. Carlos Marabuto está envolvido num processo judicial e pode ser condenado a uma pena de 4 a 12 anos de prisão. "Processaram-me por vender cactos que tinham mescalina, mas esses cactos não estão proibidos na lei, como as plantas de cultivo de canábis ou a papoila do ópio. Apenas a substância [a mescalina] é proibida."
SERÃO MESMO LEGAIS? Há quem diga que as chamadas "legal highs" são comercializadas porque aproveitam buracos na lei. José Pádua, director clínico do Instituto da Droga e da Toxicodependência vai mais longe: "Muitas destas substâncias são legais, porque na lei não está previsto o seu uso humano. Não vamos proibir sabonete só porque alguém se lembrou de o consumir", explica. "Além disso, análises em laboratórios provam que muitas delas também têm produtos químicos."
A moda do reaça
Como comentou uma leitora, Natália, no post anterior:
Cara, acho tão engraçada essa mania das pessoas de falarem com orgulho que são “politicamente incorretas” quando dizem absurdos… o sujeito vem, fala um monte de merda e diz que faz isso porque é inteligente (é um livre pensador, não segue o pensamento burro e dirigido das massas, etc) e porque não liga de ser “politicamente incorreto” porque afinal esse é o certo, a sociedade de hoje que está deturpada.
Coincidência. Eu pensava na mesma coisa.
O governador e o secretário municipal de segurança reconheceram que tanto a PM quanto a GCM exageraram na repressão à MARCHA DA MACONHA, que virou MARCHA PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
Alckmin chegou a dizer que não compactua com a ação violenta da PM.
Mas muitos leitores e alguns blogueiros continuam acreditando que a polícia estava certa: enfiar o cacete nos manifestantes.
Como os PMs que tiraram a identificação, para baterem numa boa.
A onda agora é ser bem REAÇA.
Se é humorista, e uma piada ultrapassa o limite do bom gosto, diz ser adepto do politicamente incorreto.
Que babaca agora é fazer censura contra intolerância.
Podemos zoar com judeu, gay, falar palavrão. É isso, que se foda, viva a liberdade!
Se alguém defende a Marcha da Maconha, faz apologia, é vagabundo.
Se defende a descriminalização do aborto, é contra a vida.
Se aplaude a iniciativa da aprovação da união homossexual, quer enviadar o Brasil todo- país que se orgulha de ser bem macho, bem família!
Se defende a punição de torturadores, é porque pactua com terroristas que só queriam implodir o estado de direito e instituir a ditadura do proletariado.
Deu, né?
Esta DiogoMainardização da imprensa e da pequena burguesia brasileira tem um nome na minha terra: má educação.
Esta recusa ao pensamento humanista que ressurgiu após a leva de ditaduras que caiu como um dominó a partir dos anos 80 tem outro nome: neofascismo.
É legal ser de direita?
Tá bacana desprezar os movimentos sociais, aplaudir a repressão contra eles?
Eu não acho.
Apesar de considerar o termo “politicamente correto”, do começo dos anos 90, a coisa mais fora de moda que existe, afirmo diante do que vejo e leio: eu, aleijado com tendências esquerdizantes, não era, mas agora sou TOTALMENTE politicamente correto.
+++
Foi uma semana marcada pelo protesto da gente diferenciada e gafes nas redes sociais, que têm 600 milhões de vigilantes no Facebook e 120 milhões no Twitter. Postaram:
Rafinha Bastos, no dia das mães: “Ae órfãos! Dia triste hoje, hein?”
Danilo Gentili, sobre os “velhos” de Higienópolis que temem uma estação de metrô: “A última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz.”
Amanda Régis, torcedora do Flamengo, time eliminado da Copa do Brasil pelo Ceará: “Esses nordestinos pardos, bugres, índios acham que têm moral, cambada de feios. Não é à toa que não gosto desse tipo de raça.”
Ed Motta, ao chegar em Curitiba: “O Sul do Brasil como é bom, tem dignidade isso aqui. Sim porque ooo povo feio o brasileiro rs. Em avião dá vontade chorar rs. Mas chega no Sul ou SP gente bonita compondo oambiance rs.”
Quando um leitor replicou que Motta não era “um arquétipo de beleza”, ele respondeu que estava “num plano superior”. “Eu tenho pena de ignorantes como vc… Brasileiros…”, escreveu. “A cultura que eu vivo é a CULTURA superior. Melhor que a maioria ya know?”
E na MTV, a Casa dos Autistas, quadro humorístico, chocou pelo mau gosto.
Todos pediram desculpas depois. Danilo, um dos maiores humoristas de stand-up que já vi, recebeu telefonema do departamento comercial da Band, pedindo para tirar o comentário. Ed Motta se revoltou contra a imprensa. Pergunta se temos o direito de reproduzir seus escritos particulares.
A internet trouxe a incrível rapidez na troca de informações e espaço para exposição de ideias. Alguns se lambuzam. Dizem que são contra as patrulhas do politicamente correto.
Mas como ficam as domésticas ofendidas popr Delfim Netto, os órfãos recentes, aqueles que perderam parentes em Auschwitz, os nordestinos e os pais de autistas?
Tomara que, depois do pensamento grego, democracia, Renascença, a revolução industrial e tecnológica nos iluminem.
O preconceito não é apenas sintoma de ignorância, mas lapsos de um narcisista.
Ele nunca vai acabar?
***
Enquanto no Itaú Cultural, um símbolo de excelência em apoio às artes e alta tecnologia, em plena Avenida Paulista, uma mãe foi expulsa por amamentar o filho em público na exposição do Leonilson, artista que sofreu inúmeros preconceitos, morto vítima da Aids.
Ou melhor, viadão que morreu da peste gay, porque era promíscuo, diriam os reaças.
Os ânimos estão acirrados.