sexta-feira, 27 de maio de 2011

Drogas legais à venda em Portugal

Daqui

Durante o dia o Bairro Alto parece outro. Vários idosos enchem mercearias, cafés e padarias e o cheiro da roupa acabada de estender sobrepõe-se ao dos copos de cerveja da noite anterior. Nas esquinas, já não há vestígios dos homens de aspecto duvidoso que todas as noites tentam impingir haxixe a quem passa e já ninguém se choca quando, por acaso, lê numa porta: "A tua loja de drogas legais".

No número 29 da Rua Luz Soriano, no Bairro Alto, a Magic Mushroom facilmente passaria despercebida não fosse a chamativa placa encarnada com um cogumelo com pernas. Lá dentro, várias substâncias alucinogénias aconchegam-se desde 2008 nas prateleiras envidraçadas. "Vendemos drogas legais. Têm os mesmos efeitos de outras como marijuana, ecstasy ou LSD, mas são feitas à base de produtos naturais", explica a canadiana Stephanie Turcotte, de 31 anos, sócia da loja que esteve um ano e meio à espera de licença da Câmara para abrir as portas.

A ver elefantes A partir do meio-dia, o movimento na Magic Mushroom não pára. Um casal de trinta anos conversa com a empregada da loja acerca de uma erva poderosa com efeitos semelhantes aos da canábis, a Pulse. "Esta é nova, chegou há pouco tempo, mas ainda não experimentei", diz a funcionária apontando para outra que também pode ser consumida em chá. O casal opta por uma embalagem de sálvia divinorium, uma erva que contém um dos alucinogénios mais fortes, muito usada pelos índios xamãs da tribo mexicana Mazatec. "Costumamos dizer aos clientes para não consumirem sálvia sozinhos e para se sentarem, principalmente as pessoas que experimentam pela primeira vez", explica Stephanie. "A trip é tão forte que dá para ver elefantes brancos ou coisas cor-de-rosa... perde-se totalmente o controlo e há tendência para cair."

Mas nem só de drogas vive a Magic Mushroom. Além da roupa com cogumelos estampados, há chás afrodisíacos, produtos para dar energia e "até umas cápsulas de vitaminas que curam a ressaca de álcool". "Uma vizinha nossa que morreu com 90 e tal anos costumava vir aqui comprar chocolates e dietéticos", conta Stephanie. "Temos clientes dos 20 aos 70 anos e muitos deles vêm de fato e gravata." No entanto a maior parte das vendas (nacionais e internacionais) são encomendas através do site da loja.

COGUMELOS E CACTOS Esta não é a primeira loja de drogas legais em Portugal. Em Aveiro, a Cogumelo Mágico, que abriu em 2007, orgulha-se de ter sido o primeiro espaço do género fora da Holanda. Carlos Marabuto, de 45 anos, dono da loja e de uma sex shop no mesmo centro comercial (o Oita, em Aveiro) tem um fornecedor holandês que lhe traz os produtos numa carrinha. "Os meus preferidos são os cogumelos mágicos. Não há droga mais linda", diz. A espécie que vende, o cogumelo Amanita Muscaria, provoca alucinações que podem durar dez horas e já foi proibido na Holanda. Em Portugal é o único que pode ser comercializado. Carlos Marabuto está envolvido num processo judicial e pode ser condenado a uma pena de 4 a 12 anos de prisão. "Processaram-me por vender cactos que tinham mescalina, mas esses cactos não estão proibidos na lei, como as plantas de cultivo de canábis ou a papoila do ópio. Apenas a substância [a mescalina] é proibida."

SERÃO MESMO LEGAIS? Há quem diga que as chamadas "legal highs" são comercializadas porque aproveitam buracos na lei. José Pádua, director clínico do Instituto da Droga e da Toxicodependência vai mais longe: "Muitas destas substâncias são legais, porque na lei não está previsto o seu uso humano. Não vamos proibir sabonete só porque alguém se lembrou de o consumir", explica. "Além disso, análises em laboratórios provam que muitas delas também têm produtos químicos."

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