terça-feira, 27 de dezembro de 2011

CBF gasta 23 milhões de reais para calar Romário

Daqui


Sempre bato nesta tecla: podemos chamar Ricardo Teixeira de muitas coisas. Mas burro ele não é.

No apagar das luzes da semana passada, às vésperas do Natal, a CBF anunciou que doará 32 mil ingressos para deficientes físicos durante a Copa do Mundo 2014. Serâo 500 ingressos para portadores de necessidades especiais, com direito a acompanhante, para cada jogo do Mundial. Segundo apuração do Portal iG, a CBF vai desembolsar 23 milhões de reais para o projeto.

O deputado Romário teve duas grandes causas neste primeiro ano de mandato legislativo: fiscalizar a organização para a Copa 2014 e melhorar a vida de deficientes físicos - Romário tem uma filhinha portadora da Síndrome de Down, que lhe serve de inspiração.

Romário tem sido o principal opositor a Ricardo Teixeira, que preside a CBF e é, na prática, o manda-chuva do Comitê Organizador Local (COL), que organiza a Copa. Teixeira precisava desesperadamente de uma estratégia para amenizar as críticas de Romário, que surtem mais efeito que as críticas de qualquer jornalista esportivo.

Com isso em mente, apaziguar Romário foi a primeira grande missão de Ronaldo como presidente oficial do COL. Ele chamou o seu ex-companheiro de ataque na Seleção Brasileira para conversar e, na sequência, anunciou que a CBF financiará os ingressos para deficientes. Emocionado, Romário disse o seguinte:

"Conversando com o Ricardo (Teixeira) e Ronaldo, fiz um pedido sobre a possibilidade de termos alguma conquista para essa classe de pessoas com deficiência. E fiquei surpreso com a rapidez da resposta. O Ricardo me passou que, independentemente de qualquer coisa, a CBF vai doar 32 mil ingressos para pessoas com deficiência e seus acompanhantes. Essa é uma vitória dentro desse meu primeiro ano de mandato. A maior delas, porque será a única classe sem ter que pagar ingresso. Por isso, eu gostaria de aproveitar para agradecer ao Ronaldo e ao Ricardo".

Ricardo Teixeira deve estar sorrindo de alegria ao ver o tom amistoso como Romário se refere a ele. Agora é esperar pra ver como será o Romário de 2012, se o combativo deputado que bota a boca no trombone em tudo a que se refere a organização da Copa, ou se apenas um ex-jogador que trata com desvelo os assuntos que Ricardo Teixeira e Romário tiverem interesse.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Imagina na Copa

Foda o texto dessa mina no O Esquema.
Link




Não é à toa que muitos viram um facepalm nesse logo.

Eu tenho vontade de chorar a cada vez que ouço um “Imagina na Copa, quando os gringos…” para iniciar qualquer reclamação. E isso acontece cada vez mais.

Hoje foi no elevador do jornal. Um cara estava falando ao celular dentro do elevador. O sinal caiu e a ligação foi interrompida. Ele bufou, tirou o celular da orelha e disse:

“Imagine na Copa, quando os gringos estiverem falando no telefone e o sinal cair? Que vergonha.”

Esse é um caso duplo-estúpido porque, né, ele tava dentro do elevador.

Outro dia foi no aeroporto. Um terminal de embarque estava temporariamente fechado (ia abrir dali a 20 minutos e todos íamos embarcar para Madri). Mas a ansiedade pré-voo tomou conta de todos e lá veio o:

“Imagine na Copa, quando os gringos usarem esses aeroportos de merda. Que vergonha.”

É sempre no trânsito, quando congestiona e alguém suspira:

“Imagina na Copa, quando os gringos vierem. Que vergonha.”

Meu, que vergonha disso. Que vergonha de nós. Isso sim. Todo mundo já deve ter ouvido ou dito isso. Eu mesma, bobear. Mas me dá vergonha de nós mesmo.

É tudo uma merda e nego tá preocupado com a Copa? Com os gringo? Que vergonha? E o dia a dia? E nós? Hoje?

Os gringos vêm aqui passar no máximo 15 dias. A gente vive aqui todos os dias. Em vez de ter vergonha do gringo, seria mais produtivo começar a reclamar, fazer todo mundo sentir vergonha hoje e usar essa vergonha para produzir algum tipo de progresso de fato. Para as coisas melhorarem porque a gente quer que elas melhorem porque a gente mora aqui todos os dias.

Foda-se a Copa do Mundo, não “imagine na Copa”. Imagina que isso aí de que você está se envergonhando é a real do seu dia a dia e, sei lá, comece sentindo vergonha por aturar isso. Comece sentindo vergonha dessa frase.


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Esculhambação no Facebook

Cara, é exatamente o que eu acho. Nego tá zoando a porra da ferramenta legal. Daqui.


Nos últimos dia eu vejo muitos amigos reclamando no tuíter e no Facebook sobre uma suposta bagunça que seus colegas andam fazendo no Facebook.

O que acontece é que além do hábito irritante de dar “share” no Facebook em tudo que é imagem “engraçada” que encontram por aí — essencialmente transformando o Facebook numa filial do 9gag –, a galera anda compartilhando também imagens gráficas de abuso de animais. Pra “conscientizar”, supostamente.

Mano, por que tanta gente não sabe usar o Facebook…? Eu até já me acostumei com os convites de “evento” que são na verdade promoções ou alguma coisa mais inútil ainda. Ou empresas abrindo perfis pessoais. Ou gente me marcando em foto que não tem nada a ver comigo. Ou nego respondendo “ensino médio completo” quando o site te pergunta onde você estudou.

A porra do site tem interface em português. Qual a desculpa?

Pra te ajudar a mensurar a retardadice dessa galera, olha só que incrível: tanta gente põe “completo” no campo que pergunta a sua alma mater (olhaí, hoje tu aprendeu um termo bonito aqui no HBD) que isso provocou o seguinte “bug”:

POISÉ: “completo” é tão utilizado pra definir a escola que a pessoa cursou que o Facebookreconheceu o termo como uma escola. Clica aí, descubra quantos amigos terminaram o segundo grau na “completo” e morra de vergonha.

Mano, não dá nem pra ficar com raiva dum indivíduo desses; é como observar um sujeito que nasceu sem braços tentando limpar a bunda.

Mas um negócio que me irrita mesmo é o hábito, como falei, de transformar a página principal do meu Facebook numa extensão de tudo quanto é site “engraçadinho” dessa internet maldita.

Quando eu entro na porra do Facebook, é pra ver o que meus amigos estão fazendo, ou dizendo, ou comendo — tanto literalmente como figurativamente, graças aos uploads de fotos de restaurante e mudança de status civil de “solteiro” pra “em um relacionamento”. Essa é a função do site.

Em vez disso nos últimos meses eu abro a porra do Facebook e penso que digitei “9gag.com” sem querer. Quando eu notei que tinha que dar scroll por vários minutos até achar conteúdo realmente relevante para o propósito do site, me deu agonia. Saí dando unfriend em um monte de gente, pra reestabelecer uma proporção saudável entre sinal e ruído.

E vou me abster de comentar sobre comunidades como a “Risos no Face”, porque isso daria um texto inteiro.

Esta desgraça tem 219370 "fãs". A página do Monteiro Lobato tem 1200.

Eu tô ligado que alguns argumentam “ahhhh mas se não fosse pra compartilhar essas coisas, não existiria a opção de compartilhar!”. É o argumento de uma tia velha rebatendo a crítica aos seus .PPS. “Se não fosse pra mandar isso, a Microsoft não teria embutido a função de enviar por emailmimimi”.

É isso mesmo que eu estou falando: vocês são tudo umas tias velhas repassando tudo que vêem pela frente e cagando a função real da ferramenta.

O problema real é que quem faz isso talvez não pare pra pensar que não se trata de uma ou duas ou três pessoas fazendo também. É TODO MUNDO FAZENDO JUNTO que cria a massa crítica em que essa merda se encontra.

Isso é igual jogar lixo na rua. Quem faz isso é porque pensa que uma pessoa só fazendo não causa tanta diferença. O que acontece é que quando TODO mundo pensa assim, resultando em ruas completamente emporcalhadas.

E o que é pior — isso acaba funcionando como incentivo pra que outros façam o mesmo. Assim como uma calçada cheia de entulho faz o sujeito se conformar em jogar a latinha de cerveja ao meio fio em vez de se incomodar em caçar uma lata de lixo, uma timeline toda poluída com essas merdas acaba reforçando a impressão de que o Facebook é pra isso aí mesmo.

É um círculo vicioso.

É o que está acontecendo com o Facebook. O problema não é uma ou outra pessoa postar esse tipo de coisa (afinal, a função de compartilhar coisas no Facebook é pra isso mesmo). O problema é que o comportamento é generalizado e o FB acaba virando uma filial desses sites “engraçadinhos” que proliferam como o vírus da herpes na internet brasileira.

Eu gosto de rage comics. Eu gosto do 9gag, gosto de rir. O problema é que quando quero visitar o 9gag, eu vou no 9gag. Quando quero me conectar aos meus amigos, vou no Facebook. E vocês tão tornando a porra do Facebook um site redundante.

Vou começar a deixar mensagens pros meus amigos nos comentários do Ñ.Intendo pra ver se vocês gostam.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Business com Arte

Minha coluna no Blog da Sá

Às vezes as pessoas pensam no trabalho como uma coisa ruim. O que mais vejo no Facebook e twitter hoje em dia é gente reclamando da segunda-feira e esperando ansiosamente a sexta. E sempre me dá vontade de perguntar: "Como assim, bicho? Tu odeia a coisa que mais toma tempo na sua vida?" Isso pra mim não é viver, é sobreviver.

Eu sempre procurei fazer o que gosto, o que me dá prazer. Desde o meu primeiro emprego é assim. Encheu muito a paciência? Tchau e “bença”. Minha mãe que sempre ficava bolada comigo “Meu filho, você só pode largar um emprego que não gosta quando tiver outro certo em vista!"

E enquanto isso? Fico aturando e empurrando com a barriga? Foi mal, mãe, mas esse não é seu filho. O que me enche hoje é minha faculdade: Ter que aprender com uma pessoa de 60 anos que trata aluno como se fosse gado a interpretar texto? Isso sim é um porre! Agora, faculdade você tem que aturar, senão o mercado te come, te devora. Pior ainda é viver num mercado falido, com um sistema de ensino falido e um capitalismo que tá nas ultimas, com 90% do corpo tomado por um câncer irreversível.

Hoje o que aprendo na faculdade não é usado no mundo real. É aquele papo do sistema falido. Paulo Pereira, Marcelo Crespo e Francisco Vasconcellos sim são meus maiores professores no mundo dos negócios. Aprendi mais nos meus últimos 5 meses de empresa do que os últimos 4 anos que passei na faculdade.

Mas vamos parar de reclamar da vida porque meu papel aqui é falar de música. Entrei nesse tema porque hoje na Sá Cavalcante eu sinto prazer de trabalhar e depois que aprendi com o Crespo a tratar a empresa como se ela fosse minha, a coisa ficou mais interessante ainda. Eu trabalho no estratégico financeiro, a área que era pra ser a mais burocrática, aquela que se tem que tomar cuidado com cada informação, o lugar de maior business. Quando comecei aqui, pensei "Tenho que inovar, questionar e ser dinâmico sempre." Agora você imagina um cara que trabalha numa área dessas, com esse business todo, dar uma descontraída na hora do almoço! Aqui a gente costuma fazer isso. Às vezes uma viola, às vezes uma boa conversa, às vezes brincando e às vezes até tirando um cochilo no sofá depois do almoço. Por isso digo hoje, cada vez mais, o business, a arte e o bussinesarte tomam conta do nosso dia a dia. Imagina você fazer um vídeo com roupa social, na sala do vice-presidente, tocando um violão, com seu amigo na gaita, depois colocar o youtube e espalhar no facebook pra todos, inclusive seu chefe? É... eu fiz isso.



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

80 anos - Uma vida bossa nova

Foda essa matéria sobre o Zé Maconha. Daqui

João Gilberto ainda não retomou os ensaios - WILTON JUNIOR/AE
WILTON JUNIOR/AE


João Gilberto toma vitaminas e caminha só de meias pelo quarto. A voz, inconfundível, patrimônio incalculável da cultura brasileira, está fanha e um tanto arranhada. Por isso, ele ainda não retomou os ensaios. Como na descrição que abre Frank Sinatra Está Resfriado - antológico perfil do maior astro da canção americana escrito pelo jornalista Gay Talese para a revista Esquire em 1965 - o baiano de Juazeiro que criou a batida perfeita da bossa nova recebe a atenção de duas belas moças. No caso, a mulher, a cineasta Claudia Faissol, 40 anos mais jovem do que ele, que narrou o arrastar de meias, e a filha do casal, Luisa, de 7. As duas são as únicas pessoas com acesso franqueado ao apartamento de João. Comenta-se que ele teve uma namorada que nem sequer pôs os pés lá. Não é fácil adivinhar, portanto, pelos relatos de amigos que só dialogam com ele por telefone, em longas chamadas madrugada adentro, o que vai pela cabeça e pelo coração do artista. Sem falar nos que não se manifestam nem em off, como o jornalista Mario Sergio Conti: "Tudo que eu falar poderá ser facilmente identificado".

É de se supor, no entanto, que a disposição de João hoje não seja das melhores. A turnê de aniversário do gênio, "80 anos - Uma vida bossa nova", anunciada para o início de novembro em cinco capitais do País, teve de ser adiada por causa da sinusite, diagnosticada por seu médico, o geriatra carioca Jorge Jamili. Rumores de que o cancelamento se devera ao encalhe de parte dos salgados ingressos, com preços variando de R$ 500 a R$ 1.400, certamente não contribuíram para o estado de espírito daquele que Caetano Veloso considera "o maior artista da música brasileira de todos os tempos". Uma coluna social publicou que João ficou "tristíssimo" com o fato e a produção teve de enxugar itens como o jatinho particular que levaria o músico de uma cidade para outra. Só a segunda parte da informação foi desmentida.

O zum-zum sobre as razões do adiamento não arrefeceu nem com a divulgação, essa semana, de novas datas para os shows, em dezembro: dia 9 em Salvador, 18 em São Paulo e 21 no Rio. Embora os de Porto Alegre e Brasília ainda não estejam confirmados, a organização ressalta que todos os 2.252 ingressos para a apresentação no Theatro Municipal do Rio se esgotaram e 85% dos 3.075 lugares do Via Funchal, na capital paulista, já foram vendidos. A informação de que o empresário Eike Batista arrebatara um enorme lote a título de "apoio cultural", que circulou nas noites cariocas e virou piada no site The piauí Herald, foi desmentido pela assessoria do empresário ao Aliás.

Não sei sofrer, não sei chorar, eu sei me conformar, diria João Gilberto, se falasse com a reportagem. Personagem discreto, quase monástico em sua privacidade, ele raríssimas vezes concedeu uma entrevista, mas nem assim conseguiu evitar a falação do povo, fascinado por suas "excentricidades", reais ou imaginárias. E como quem conta um conto sobre o cantor sempre aumenta um ponto, não se sabe ao certo onde terminam os fatos e começa a lenda. A família revela, por exemplo, que muito o aborreceu a notícia, publicada no início do ano, de que estaria sendo despejado pela condessa Georgina Brandolini D'Adda de um imóvel na Rua General Urquiza, no Leblon, zona sul do Rio, onde ele nem morava - embora o locasse. Ou a altercação, divulgada em junho, com um vizinho que esmurrava a porta aos gritos de "fumar maconha é crime!", arrancando-lhe como resposta o único grito ouvido em anos pelos condôminos do prédio na Rua Carlos Góis onde ele realmente vive: "Você mora no Leblon, olha a baixaria!"

Ali ele vive entocado, dedilhando seu violão e pedindo comida em domicílio no modesto restaurante da esquina, o Degrau, na Av. Ataulfo de Paiva. O apartamento de três dormitórios e 130 m² é alugado e dá vista lateral para o mar. Embora as cortinas vivam fechadas, há quem jure tê-lo visto na área de serviço, de short, camisa social e relógio. Um entregador do supermercado mais próximo não hesitou em se declarar espantado com a montanha de louça suja acumulada na cozinha do músico. Por causa da idade, João Gilberto contratou um motorista e aparentemente se desfez do famigerado Monza verde escuro com que, no final dos anos 80, levou um assustado Nelson Motta para passear.

"Entrei no carro lembrando de algo que o Luiz Galvão, dos Novos Baianos, havia contado, que João dirigia que nem louco, cruzando todos os sinais vermelhos", conta o escritor e colunista do Estado. "Mas não foi nada disso, ele circulou tranquilamente, admirando o mar e ouvindo no toca-fitas conjuntos vocais dos anos 40." Motta, que considera Amoroso, gravado por João Gilberto nos EUA em 1977 e cantado em inglês, espanhol, italiano e português, o melhor disco que ouviu na vida, não perde uma apresentação do cantor, aconteça onde acontecer.

Ao lado do amigo, Nelson Motta protagonizou, em 1991, uma cena hilariante, que pode ser vista no YouTube, em que o repórter Amaury Jr. tenta insistentemente arrancar uma declaração de João, que se limita a dizer, com um sorriso maroto: "Eu posso pedir ao Nelsinho pra falar?" Não foi uma blague isolada, assegura Motta. "O humor é uma característica do João pouco percebida pelas pessoas. Ele é um imitador engraçadíssimo e tem tiradas cáusticas, como quando disse 'vaia de bêbado não vale'", diz, em referência ao incidente ocorrido em 1999 durante um show no Credicard Hall, em São Paulo.

Outra face inesperada do músico que traduziu, com delicadeza ímpar, a batida do samba para o violão e a fez dialogar com o ritmo e a musicalidade da palavra cantada, é a de fã de torneios de vale-tudo. João se entusiasma aos brados com a pancadaria de ídolos como Minotauro e Anderson Silva, confidenciam amigos. E é de se imaginar que tenha interrompido o repouso vocal na madrugada de ontem para acompanhar a primeira transmissão do UFC (Ultimate Fighting Championship) pela Rede Globo, com narração de Galvão Bueno.

Os contatos do músico com Nelson Motta tornaram-se mais esparsos nos últimos anos, assim como com outros amigos. Talvez pelo nascimento da filha Luisa, a quem João dedica o tempo que sobra das exigências que a música lhe impõe. Aconteceu também com o deputado federal Raul Henry, em segundo mandato pelo PMDB de Pernambuco, outro dos privilegiados que desfrutam da voz e, muy eventualmente, da presença do artista. Quem os apresentou foi o violonista alagoano Aldro Lajes, que acompanhava a cantora Miúcha, ex-mulher de João Gilberto. Na época, Henry era vice-prefeito e convidou o músico para se apresentar na reinauguração do Teatro Santa Isabel, após a reforma que lhe devolveu as linhas originais de 1850. Foram duas noites inesquecíveis, dia 13 e 14 de dezembro de 2000, e os dois ficaram amigos.

"Depois disso, sempre que eu passava no Rio, levava uma caixa de umbu, que é a fruta de que João mais gosta. Deixava na portaria do prédio. Nunca subi, nem pedi para subir", conta. Nos longos telefonemas pontuados por música - João desenvolveu a técnica de se inclinar, com o telefone no ombro, perto do bocal do violão, para falar e tocar ao mesmo tempo -, Henry conheceu um homem politizado e apaixonado por futebol. "A conversa dele é uma poesia, impressionante. Às vezes eu tomava uma dose de uísque antes para apreciar melhor a prosa." Quando, após as eleições de 2002, Lula anunciou que manteria a política econômica do antecessor, FHC, João elogiou: "Que beleza, Raulzinho, ele está acertando em tudo até agora".

Não tem preço. O deputado faz um desagravo pelo clima criado em torno das apresentações nos 80 anos do artista. Em um artigo publicado no site da revista Época, o crítico musical Luís Antônio Giron chamou de extorsivos os preços dos ingressos e disparou: "Talvez João Gilberto valha menos em termos monetários do que queira pensar". Henry acha falta de respeito. "João Gilberto é o elemento mais universal da cultura brasileira hoje. Seu valor é incalculável."

Claudia Faissol é ainda mais enfática na defesa do marido, que conheceu após contornar com muito jeito sua resistência a um documentário que ela ainda está produzindo sobre sua música. "Nós brasileiros não ganhamos o Prêmio Nobel nem o Oscar, mas ganhamos por duas vezes o prêmio maior da música com o João Gilberto. O Grammy norte-americano, que é completamente diverso do Grammy latino-americano, uma honraria dada pela National Academy of Arts só aos melhores do mundo. João concorreu com Louis Armstrong e Rolling Stones e ganhou", desabafa. Claudia conta que se dedicou pessoalmente na última semana a fazer contatos com governos e prefeituras por onde a turnê vai passar na intenção de viabilizar outras apresentações a preços populares ou a transmissão dos concertos de graça. Ainda sem sucesso. "O brasileiro comum merece conhecer o trabalho imortal do João."

Até o músico Lobão, crítico ferrenho da canonização de ídolos da MPB, recolheu suas garras: "Parece que o Brasil é 8 ou 80: ou é um culto ridículo ou esse discurso do encalhe. De repente, esse sintoma é com o público. O Brasil está ficando muito vascaíno, como se diz no Rio. Grotesco, mal-acabado". E recorda as duas vezes em que falou com o artista baiano no ano de 1986.

"Eram 5h da manhã e eu estava na minha casa no Jardim Botânico, cheiradão, quando toca o telefone. E o João do outro lado: 'Vem agora pro meu apartamento. Quero gravar Me Chama. Eu senti muito a emoção dessa letra'. Eu não tinha a menor condição de aparecer lá naquele estado, então inventei uma desculpa", ri Lobão. Meses depois, o pai da bossa nova quis que o roqueiro ouvisse, via Embratel, as oito mixagens diferentes que tinha feito da música e o ajudasse a escolher a melhor. "Apesar de tudo que já disse dele, tenho o maior carinho pelo João. Ele tem suas esquisitices, como eu, mas é uma criatura doce, meiga até."

Toda essa estridência deve continuar, pelo menos até as cortinas se abrirem e João Gilberto tocar as cordas de seu Di Giorgio 1950. Então, talvez, a melhor resposta venha de seus próprios lábios, sussurrada: É só isso o meu baião / E não tem mais nada não.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Qual a lógica de produção de IPADs no Brasil?

Do blog Mansueto Almeida


Tinha prometido que não iria entrar neste debate. Mas confesso que já fiz de tudo para entender a fixação das autoridades governamentais para trazer a produção de IPADs para o Brasil e até agora não entendi e, sinceramente, gostaria de entender. Isso seria possível se alguém do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC) e/ou do BNDES se dispusesse a colocar no papel qual a estratégia de atrair a Foxconn para o Brasil e o que o país ganha com isso que não seja a simples montagem de produtos eletrônicos.

A ideia é interessante: o governo dá incentivos e traz para o Brasil a montagem de um produto que, supostamente, envolve elevado conteúdo tecnológico, elevado valor adicionado e cuja produção poderia até servir de plataforma de exportação para outros países da América Latina.

É impossível não fazer um paralelo disso com os objetivos da Lei de Informática: (i) aumento da densidade da cadeia produtiva e da densidade tecnológica do setor de TICs no Brasil, (ii) aumento das parcerias entre universidades e institutos de pesquisa; (iii) aumento da competitividade das empresas brasileiras e maior inserção no mercado internacional, etc. O que de fato se conseguiu com a Lei de Informática?

Segundo avaliação oficial desta lei concluída recentemente e infelizmente não divulgada (mas apresentação em power point está disponível na internet), os autores do estudo contratado pelo MCT ao CGEE mostraram que: a Lei de Informática proporcionou aumento da produção local e do número de empregos gerados; proporcionou aumento da capacidade de inovação com densidade científica e tecnológica relativamente baixa; não teve impacto substantivo na inserção global, não estimulou a entrada em serviços e em segmentos de hardware de maior valor agregado, e a Lei focou no incentivo a produção com efeitos limitados na criação de valor.

Em resumo, a avaliação recente da Lei de Informática mostra que tivemos sucesso em atrair a montagem de produtos, mas isso aumentou ou déficit comercial já que a especialização em montagem envolve importação de componentes como é o caso dos celulares, que são montados aqui com peças importadas. O total de importação sobre o faturamento dos produtos incentivados pela Lei de Informática, por exemplo, passou de 20%, em 2002 e 2003, para cerca de 60%, em 2009.

Ao que parece, a Lei de Informática teve sim alguns efeitos positivos, mas o que se destacou foi muito mais a produção com uso crescente de insumos importados do que o aumento da inovação, agregação de valor e inserção global. Sinceramente, não vejo nada muito diferente na ênfase excessiva que tem sido dada na montagem de IPADs no Brasil pela Foxconn.

Alguns esperam que a Foxconn, ao produzir IPADs no Brasil, empregue mão-de-obra qualificada (engenheiros) e traga fornecedores de insumos, o que levaria a transferência de tecnologia para empresas domésticas que poderiam entrar na lista de fornecedores da Foxconn. Isso faz sentido? Infelizmente, essa expectativa pelo que sei não tem respaldo nem com o modus operandi da Foxconn e nem tão pouco com a organização da cadeia global de um produto como o IPAD.

Em primeiro lugar, a Foxconn opera com fábricas de grande escala, algumas com mais de 400.000 trabalhadores que são verdadeiras fábricas em forma de cidades. Embora a Foxconn seja uma empresa de Taiwan, fez elevados investimentos para montar os IPADs, IPhones e Ipods na China porque tanto a carga tributária (mesmo de 20% do PIB) quanto o custo da mão-de-obra (em dólar) na China são baixos. O Brasil não passa neste teste e, assim, a única forma de sermos competitivos no âmbito global na montagem desses produtos seria com MUITOS incentivos fiscais e financeiros de todos os tipo que se possa imaginar e, por que não, com uma montanha de recursos do BNDES para facilitar a atração da Foxconn.

Segundo, já foi fartamente documentado por quem estudou o assunto que “agregação de valor” não tem absolutamente nada a ver com o “local da produção” e o melhor exemplo disto é justamente o modelo de negócios da Apple e a produção de IPOD (clique aqui), IPHONE e IPAD. Kenneth L. Kraemer, Greg Linden, e Jason Dedrick (clique aqui) estudaram a formação de valor na produção desses produtos e mostraram de forma inequívoca que o valor adicionado na China que produz esses aparelhos é pequeno e que os EUA, que não produzem um único IPAD mas controlam o design, o software e a marca, é quem mais ganha em cada IPAD produzido. O gráfico do texto dos autores acima não deixa dúvidas.

Divisão de Valor da Produção do IPAD – 2010

Fonte: Kenneth L. Kraemer, Greg Linden, e Jason Dedrick (2011)

Do valor total de US$ 499 de um IPAD de 16 GB WI-FI, em 2010, os EUA ficavam com 32% do valor, US$ 162, sendo US$ 150 (30%) da Apple e US$ 12 (2%) de firmas americanas fornecedoras da Apple. O equivalente a US$ 154 (31%) do valor do IPAD era custo dos insumos (produtos) utilizados na sua fabricação. O ganho da China na fabricação de cada IPAD era US$ 8 (1,6%), o valor da mão-de-obra empregada na fabricação dos IPADs e parte dos US$ 27 (5%) do lucro dos fabricantes de componentes cuja nacionalidade não foi identificada.

Quem de fato agrega valor ao IPAD é a Apple. Do valor final do IPAD de US$ 499, o preço de atacado para a Apple é de US$ 424. Desse total, se retiramos o valor dos insumos materiais utilizados no processo de produção (US$ 154) tem-se um valor adicionado de US$ 270 do qual US$ 150 (56% do valor adicionado) termina em Cupertino no Vale do Silício na sede da Apple.

É claro que os cálculos acima do texto do Kraemer et. Al (2011) não tiram em nada o mérito do fundador da Foxconn, Terry Gou, e da sua espetacular história com a Foxconn. Terry Gou construiu um império com mais de um milhão de trabalhadores e se tornou o homem mais rico de Taiwan a partir de um empréstimo de US$ 7.500 que conseguiu com a sua mãe aos 23 anos de idade. A Foxconn consegui ao longo de sua história despontar não apenas como um grande fornecedor da Apple, mas também de empresas como IBM, HP, DELL e Nokia. É sem dúvida um excelente caso de sucesso para os cursos de administração de empresas como é também a história do Wal-Mart e seu modelo de negócios que revolucionou o varejo e a produção de vários produtos industriais e agrícolas.

Do ponto de vista de política industrial, no entanto, não é tão claro o ganho para o Brasil na produção, ou melhor, na montagem de IPADs graças a incentivos fiscais e financeiros, junto com recursos do BNDES que serão utilizados para viabilizar a ampliação das operações da Foxconn aqui. O que questiono não é o ganho privado para a empresa, mas o benefício social que justificaria a aplicação de recursos dos contribuintes em uma empresa privada.

O melhor seria, talvez, turbinar o funcionamento de fundos de venture capital, uma indústria ainda pequena no Brasil, para fomentar um pouco de Steve Jobs que existe em muitos jovens que, devido a todas espécies de dificuldades para se iniciar um novo empreendimento no Brasil, terminam fazendo concurso público ou indo trabalhar em instituições financeiras.

É claro que do ponto de vista estritamente político, trazer uma empresa como a Foxconn para o Brasil é ganho líquido e certo para os políticos envolvidos no processo: o benefício da entrada de uma grande empresa é sempre acompanhada do aumento de contratações de mão-de-obra, investimentos fixo, etc. e, assim, o benefício é imediato. Os custos para sociedade decorrente do incentivos fiscais e financeiros não são divulgados e só ficam claros ao longo do tempo. É por isso que políticos continuam a fazer uso da guerra fiscal como instrumento de promoção do desenvolvimento local, regional e nacional, independentemente do país e da filiação partidária.

Seria bom para o debate que o governo divulgasse um estudo completo dos custos e benefícios de incentivar com recursos públicos a expansão da Foxconn no Brasil, ao invés de simplesmente falar que “vamos produzir o IPADs”. Se for para produzir o IPAD como a China faz e ficar com apenas US$ 8 do valor adicionado, confesso que não acho isso uma boa estratégia. E há motivos de sobra para se preocupar quando se olha para os resultados da Lei de Informática, que mostra que tivemos “sucesso” para internalizar parte da produção de equipamentos de telecomunicação, mas falhamos na criação de empresas globalmente competitivas.

Fica aqui o desafio para que nós pobres mortais tenhamos acesso a algum estudo de custo e benefício da utilização de recursos públicos para a produção de IPADs no Brasil. Apenas aqueles que estão envolvidos diretamente nas conversas com a Foxconn teriam condições de fazer esse estudo, ou seja, MCT, MDIC e/ou BNDES.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Repassa isso aqui, porra!

O maluco quebrou o braço da mina.
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Só faltou o vídeo pra fechar com chave de ouro, né?





Filho da puta, né? E saiu da boate sem ninguém fazer nada. Brasileirismo de merda esse! Coloca esse malandro na cadeia com aquele "compartilhar" do facebook que você sempre usa quando acha alguma coisa revoltante na internet.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

4:20

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Anvisa adverte: Revista Veja faz mal à saúde

Daqui

A revista Veja não tem cura. Na edição da semana retrasada, ela estampou na capa o título “O poderoso chefão” e publicou uma “reporcagem” cheia de adjetivos contra o ex-ministro José Dirceu. O seu repórter tentou invadir o apartamento do dirigente do PT e imagens ilegais foram usadas na matéria. A ação criminosa está sendo investigada pela polícia e a Veja está acuada.

Nesta semana, na edição número 2233, a revista preferiu uma capa mais light, talvez tentando esfriar a reação à sua ação mafiosa contra Dirceu. “Parece milagre!” foi a manchete da longa reportagem sobre um novo remédio “que faz emagrecer entre sete a 12 quilos em apenas cinco meses”. Novamente, porém, a revista parece ter cometido outro crime.

Hipoglicemia, náusea e diarréia
Em comunicado oficial, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) imediatamente alertou que o remédio propagandeado pela Veja não deve ser usado como emagrecedor. “A única indicação aprovada atualmente para o medicamento é como agente antidiabético… Não foram apresentados à Anvisa estudos que comprovem qualquer grau de eficácia ou segurança do uso do produto Victoza para redução de peso e tratamento da obesidade”.

Ainda segundo o comunicado, o uso do medicamento para qualquer outra finalidade apresenta “elevado risco para a saúde da população”. O Victoza foi aprovado para comercialização em março de 2010 para uso específico no tratamento de diabetes. A Anvisa informa que foram relatados eventos adversos associados ao medicamento nos estudos clínicos, como dores de cabeça, hipoglicemia, náusea e diarréia. Ela destaca ainda os riscos de pancreatite, desidratação e alteração da função renal e da tireóide.

Propaganda descarada

Como relata Ligia Martins de Almeida, em artigo no Observatório da Imprensa, a revista tem o péssimo costume de propagandear remédios. “Não é a primeira vez que Veja dedica seu precioso espaço para falar de dietas milagrosas… Mas talvez seja a primeira vez que ela usa sua capa para divulgar um produto de forma tão descarada”. Os resultados desta jogada comercial são imediatos.

“O sucesso da matéria pode ser comprovado no site DoceVida, especializado na venda de produtos para diabéticos, que já no domingo trazia a reprodução da capa de Veja com a matéria sobre o remédio. O medicamento, aliás, que só pode ser vendido com receita médica e custa entre 343 e 350 reais nos sites de farmácias especializadas em vendas online… Com a matéria de Veja, certamente a procura – na internet e nos consultórios de endocrinologistas – vai aumentar muito”.

Quem tem culpa no cartório?
“Os pauteiros e editores da revista – felizes com a repercussão da matéria (porque as matérias desse tipo sempre dão excelentes resultados) – não terão qualquer sentimento de culpa se eventualmente se descobrir que os efeitos do tal medicamento podem ser péssimos para quem não tem problemas com glicemia. Até lá, terão mudado os pauteiros e os editores e os próximos poderão discutir o assunto sem qualquer culpa no cartório”.

“O que Veja deixou claro, com essa matéria, é que a responsabilidade da imprensa com os seus leitores nem sempre vem em primeiro lugar. A vontade de causar impacto (ou talvez de atender os interesses de seus anunciantes) às vezes fala mais alto”, conclui Ligia Martins de Almeida, que até pegou leve com a inescrupulosa e ambiciosa famiglia Civita, dona da revista.

O crime não será punido?
Como ensina o professor Dênis de Moraes, no livro “Por uma outra comunicação”, a mídia privada e monopolizada tem interesses políticos e econômicos. Na “reporcagem” contra Dirceu, ela visou desgastar e enquadrar o governo Dilma. Já na matéria sobre o remédio milagroso, os interesses comerciais e publicitários falaram mais alto. Nos dois casos, a revista Veja cometeu crimes.

Será que o laboratório que fabrica o Victoza pagou pela chamativa propaganda na capa da Veja? Ele banca anúncios publicitários na revista? Quais seriam os valores? Existe “caixa-2” no mercado publicitário? Isto não configuraria uma forma de corrupção? Se a saúde da população é colocada em “risco elevado”, não caberia aos poderes públicos tomarem providência contra a revista?

sábado, 30 de julho de 2011

E a bola sorriu

Do blog do Juca

Por MARCIO TEIXEIRA DE MELLO*

Olá, Juca.

Eu, como flamenguista, ainda me recupero da noite de quarta.

Ainda quase choro ao lembrar determinados momentos da partida.

Ah, como é bom amar o futebol e, mais especificamente, esse meu time.

Queria dividir com você uma foto que vi e que deu uma aura ainda mais divina ao quarto gol do Flamengo, naquela falta cobrada de forma mágica por Ronaldinho Gaúcho.

Veja a foto.

Olhe a bola.

Olhe a CARA da bola.

A bola sorri.

A bola sorriu, Juca!

Meu Deus!

Ivan Storti/Lancepress

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Foda-se

Maluco manda. Manda não, joga.



Gastos da Copa 2014 que o governo quer tornar secreto.

Daqui